Mesdames et Messieurs,
Seu Meliê, depois de uma hibernação vitivinícola, resolveu deixar a toca e voltar a tocar a vida nesse universo das vitiviníferas. Hoje, esse humilde caçador de garrafas, vai tratar de uma dessas uvas francesas que se vestiam de patinho feio e hoje são cisnes no mundo do vinho, principalmente, depois que deixarem as terras gaulesas e passarem a brilhar em outro terroir. Falamos aqui da Tannat, nascida no sul da França, abaixo de Bordeaux, mais especificamente na AOC Madiran . Nesse ambiente de relevo acidentado e clima frio, ela ganhou fama de selvagem. Aliás, as palavras Tannat e Tanino têm a mesma raíz e, como é sabido, taninos não controlados podem deixar o vinho com um jeito agressivo e difícil de enfrentar. Na terra natal, em outras eras, o mais comum era encontrar a Tannat em algum blend onde trazia estrutura e com a ajuda da companheira ganhava ares mais palatáveis.
Ainda bem que os bons ventos da globalização do vinho sopraram mudas de Tannat para o continente americano. Aqui ao lado, no Uruguai, local de terreno plano e que sofre muita influência dos ventos que sopram do Atlântico, ela largou o lado patinho feio e se tornou um cisne engarrafado. A Tannat é a uva símbolo do país e produz vinhos bem estruturados, com bom corpo, taninos presentes, mas bem controlados.
A Tannat, contudo, essa aventureira, prefere não guardar endereço fixo. Deixou o Uruguai e veio para o Brasil. Na Região da fronteira, a Campanha Gaúcha, tem gerado vinhos de muita qualidade e com características um pouco diferentes daquelas do Tannat uruguaio. Na campanha, a Tannat made in Brazil dá vida a vinhos que preservam muito da fruta. É o caso, por exemplo, do Rastros do Pampa Tannat, produzido pela Guatambu, e que já foi escolhido o melhor vinho brasileiro em uma das últimas edições do Descorchados, o mais influente guia de vinhos do nosso continente. Apenas 4 meses em madeira, um vinho muito harmônico entre fruta, acidez e taninos. Na Serra Gaúcha, local de relevo um pouco mais acidentado, de umidade mais alta, a Tannat, menina casca grossa, tem mais dificuldade para amadurecer. Mas é na adversidade que o brilho aparece. Há excelentes exemplos de Tannat da Serra Gaúcha, um deles também faz parte da nossa carta. É o Torcello Tannat, pequena e briosa vinícola estabelecida logo na entrada do Vale dos Vinhedos e que produz vinhos deliciosos.
A Tannat brasileira é versátil e capaz de enfrentar com galhardia e talento as diferenças de clima que um país continental apresenta e, com certeza, brilha especialmente quando estamos no inverno.
A bientot